AVIBRAS AV-VB4 GUARÁ.


ORIGENS Por Anderson Barros
Durante a Segunda Guerra Mundial, os veículos 4×4 de 1/4 t — vulgarmente conhecidos como jipes, tornaram-se uma presença comum e numerosa nas unidades do exército americano. A grande quantidade de jipes disponíveis ao final daquele conflito tornou inevitável seu uso por um grande número de exércitos no período pós-guerra, mormente para missões de reconhecimento e ligação. Apesar de suas conhecidas limitações, a simplicidade, rusticidade e praticidade do veículo acabaram resultando em uma espantosa longevidade. Um dos pontos negativos do jipe era o fato de não oferecer à guarnição praticamente nenhuma proteção contra minas, tiros, ou estilhaços. As tentativas de blindar o jipe, parcial ou totalmente, não foram muito bem sucedidas, pois a suspensão do veículo não reagia bem à carga adicional. Eventualmente, os principais exércitos do mundo acabaram por substituí-lo por veículos mais sofisticados (e logicamente mais caros e mais pesados Mesmo os Humvee, usado pelas forças armadas dos Estados Unidos e seus aliados têm se mostrado excessivamente vulnerável nesses ambientes.), que embora se mantendo dentro de limites dimensionais aceitáveis e continuando a tradição de versatilidade, apresentassem melhor desempenho e maior mobilidade fora de estrada, bem como oferecessem de um razoável nível de proteção para seus ocupantes. No Brasil, a Engesa desenvolveu a viatura leve de reconhecimento EE-3 Jararaca, com peso de combate de 5.800 kg, motor de 120 HP e guarnição de três homens. Por uma série de fatores, que não cabe aqui discutir, o veículo jamais preencheu totalmente as expectativas daqueles que desejavam vê-lo distribuído em larga escala pelas unidades de cavalaria do EB. Por outro lado, o EE-9 Cascavel foi um retumbante sucesso, e um considerável número serve em unidades da Força Terrestre, o mesmo acontecendo com o igualmente bem sucedido EE-11 Urutu. Ambos os veículos, porém, estão inexoravelmente chegando ao final de sua vida útil, e a tendência é que sua manutenção fique cada vez mais cara. Foi exatamente a necessidade de substituição do EE-9 e do EE-11 que levou o Exército Brasileiro a elaborar um programa para a obtenção da NFBR (Nova Família de Blindados de Rodas), que envolve uma Família de Blindados de Rodas Médios (FBRM) que recentemente passou a se chamar VBTP-MR (Viatura Blindada de Transporte de Pessoal-Médio de Rodas) no qual deu origem ao Iveco Guarani e uma Família de Blindados de Rodas Leves (FBRL).

Acima: O EE-3 Jararaca da extinta Engesa foi uma tentativa de fornecer ao exército brasileiro um blindado 4X4 de fabricação nacional. Porém este modelo não supriu os requisitos do exército brasileiro que continuou a ter uma lacuna em seu arsenal.

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
O EB pretendia se equipar com mais de mil e duzentas viaturas blindadas leves sobre rodas, em várias variantes: reconhecimento, anti-carro, radar, posto de comando, observador avançado e porta-morteiro. O novo veículo blindado deveria ter peso de combate máximo igual ou inferior a 7.653 kg, e desejável de 6.122 kg, as viaturas da FBRL (Família de Blindados de Rodas Leves) teriam configuração 4×4. Existiam outros requisitos, alguns dos quais são mandatórios (autonomia mínima de 400 km, transportabilidade por aeronaves C-130 e similares, fácil manutenção, baixa pressão sobre o solo e uma grande mobilidade tática e ainda prevista para receber blindagens adicionais, possuindo também um amplo espaço interno, etc.), enquanto outros são desejáveis (capacitação anfíbia, por exemplo). Uma das exigências do Exercito era que a produção fosse feita no Brasil (a aquisição direta a partir de um fabricante estrangeiro só ocorrerá se não houver outra alternativa ou a partir de parcerias) Algumas dessas associações chegaram a ser realizadas, como a Steyr (Áustria) com a Volkswagen do Brasil, e a Oto Melara (Itália) com a Iveco Fiat brasileira, a suíça MOWAG com a GM, a turca Otokar com a Agrale, e a espanhola Urovesa com a Randon. Porém a Avibras, fabricante do sistema Astros II se associou ao IPD/SCT (Instituto de Pesquisa e desenvolvimento/Secretaria de Ciência e Tecnologia) e desenvolveu a Viatura Blindada Leve de Reconhecimento, 4×4, designada AV-VB4 RE e batizada com o nome de GUARÁ – espécime de lobo brasileiro.

Acima: Produzido pela Avibras, o Guará é uma solução para uma viatura leve 4X4 que tem como característica a flexibilidade de emprego.

CHASSI
GUARÁ foi desenvolvido a partir do chassi do veículo fora de estrada alemão, UNIMOG 4000, com o objetivo de reduzir custos de produção e facilitar a manutenção. A carroceria e uma estrutura monobloco com chapas de aço blindadas. Projetado como um veículo modular dividido em chassis, compartimento da tripulação e compartimento de motor (Power Pack) que fica alojado na dianteira do veiculo separados através de uma parede corta fogo e estrutural, com isolamento térmico/acústico.

PROTEÇÃO
A proteção blindada (Possui blindagem modular que é substituída facilmente quando atingido) é capaz de suportar impactos diretos de munição calibre 14,5 mm. Mesmo assim, a proteção blindada pode ser aumentada com reforço de placas de cerâmica que permitem resistir a calibre 30 mm eblindagens adicionais para os pára-brisas. O assoalho tem formato de “V” com revestimento interno anti-estilhaçamento com três camadas para proteger contra detonações de minas e IEDs (Explosivos improvisados), muito usados em guerra irregular para destruir ou inutilizar os veículos e tanques inimigos. O compartimento da Tripulação é protegido para condições de guerra nuclear, biológica e química (NBQ), sistema de detecção laser e infra-vermelho. Os pneus do GUARÁ são do tipo “run flat”, extremamente resistente a tiros podendo trafegar mesmo que perfurado.

Acima: O Guará é uma viatura com proteção blindada acima da média. Uma interessante curiosidade que ocorre com o Guará é que ele é maior do que parece nas fotos. Quando o vemos pessoalmente ele surpreende por causa dessa característica.

PROPULSÃO
A propulsão do GUARÁ é feita por um motor Mercedes Benz OM 904 LA 4, turbo diesel que desenvolve 177 cv de potencia que é capaz de levá-lo a uma velocidade máxima de 97km/h em estradas, o que é excepcionalmente bom para um veículo um peso na ordem de 7.650kg. Suaautonomia é de 600km. O GUARÁ é capaz de entrar em rios com profundidade de até 1,2 m e superar obstáculos verticais de até meio metro. Os freios são a disco nas quatro rodas, com ABS/ALB, duplo circuito hidráulico e freio motor de dois estágios, com direção servo assistida hidraulicamente, transmissão com comando eletrônico. Sua suspensão é de molas helicoidais progressivas com amortecedores, barras estabilizadoras e quadro de chassis flexível, de alta flexibilidade torsional, apto para qualquer terreno e sistema de regulação central da pressão dos pneus (CTIS).

Acima: O Guará tem capacidade de transpor rios com até 1,2 metros de profundidade o que lhe garante uma ótima mobilidade.

ARMAMENTO
O GUARÁ pode ser armado com um reparo giratório para metralhadora calibre 7,62 mm ou uma metralhadora pesada em calibre 12,7 mm (. 50). Ainda pode ser equipado com uma torreta blindada giratória para metralhadora com acionamento elétrico. Além de metralhadoras, o Guará pode ser armado com quatro lançador de granadas fumígenas, ainda existe provisão para a instalação de um lança míssil antitanque como o míssil TOW, por exemplo. O veículo possui periscópio para visão noturno-diurna para o atirador, motorista e comandante e um sistema de navegação por GPS.
O exercito brasileiro avaliou este blindado no Rio de Janeiro, no campo de testes de Marambaia sendo avaliado em seguida pelo Centro Tecnológico do Exército (avaliação técnica) e pelo Centro de Avaliações do Exército (avaliação operacional). Embora o Guará tenha causado uma impressão muito positiva no Exercito a total falta de incentivo e garantia de compra aliado aos problemas orçamentários enfrentados pelas Forças Armadas, que se agravam ano após ano impediu que esse excelente veiculo fosse adquirido.

Acima: O armamento básico do Guará é composto por metralhadoras como a M-2HB em calibre .50 (12,7 mm) que equipa o exemplar desta foto.

O LOBO BRASILEIRO OPERANDO NO HAITI
A Avibras Aeroespacial cedeu ao Exército Brasileiro, por empréstimo, um protótipo de seu blindado leve AV-VB4 RE Guará para auxiliar no apoio aos capacetes azuis brasileiros no Haiti. Essa oportunidade surgiu após uma visita da Avibras ao Alto Comando do Exército, ocasião em que foi apresentado formalmente seu apoio e solidariedade ao Exército e, por meio deste, ao povo do Haiti, já que aquele país acabara de sofrer devastador terremoto. A partir daí, e com o pronto aceite do Exército, a Avibras adaptou a viatura às exigências e condições operacionais em Ambiente urbano (observando os problemas enfrentados pelos EUA e seus Aliados na guerra do Iraque) em apenas 12 dias, culminando com o envio do veiculo da fabrica da Avibras para o Rio de Janeiro (RJ), para ser embarcada em navio da Marinha em direção ao Haiti. Sendo um veículo compacto, ágil e com alta capacidade para ultrapassar obstáculos, e ideal para operação em áreas urbanas, principalmente no caso de Porto Príncipe, a capital, onde as ruas, em certas áreas, são estreitas e apertadas e com entulhos resultantes do terremoto.
A primeira vista o veículo impressiona pelas suas linhas e tamanho, embora no mundo existam veículos menores e maiores nesta categoria, que fazem dele o irmão mais novo de outros blindados desenvolvidos pela Avibrás, como o VBL, já exportado para o Exército da Malásia. O Guará guarda muitas similaridades com o Dingo 2 alemão, inclusive é montado sobre o chassi, o do caminhão Unimog já operado pelos nossos Fuzileiros Navais. Porém o Dingo 2 custa 1 milhão de Dólares, enquanto o Guará em sua versão básica pode custar apenas 1/4 desse valor.

Acima: O Guará está sendo empregado, atualmente no Haiti, onde foi adaptado para operações urbanas. Porém o modelo ainda não foi adotado pelas forças armadas brasileiras

FICHA TÉCNICA
Velocidade máxima: 97 Km/h.
Alcance Maximo: 600 Km.
Motor: Diesel intercooler Mercedes-Benz OM 904 LA, 4 cilindros, em linha, 177cv.
Peso: 7650 kg.
Tripulação: 10.

Inclinação frontal: 60º.
Inclinação transvesal: 30º.
Obstáculo vertical: 0,50 m.
Passagem de vau: 1,2 m.
Armamento: Uma metralhadora MAG 7,62mm ou 12,7mm (.50).
Custo Unitário: USD $ 250 mil por unidade.
Fontes: Avibras Aeroespacial S.A, Defesanet, http://www.army-guide.com, www.segurancaedefesa.com
  1. José F. Nogueira

    Eu sinto triste em saber que o carro Quará não foi comprado pelo o exercito Brasileiro.
    O problema todo é que os políticos e o governos do Brasil nunca deram muita atenção
    para as forças armadas no Brasil. Sem fazer isso, jamais pode o nosso país impor suas
    idéias no mundo ou ser considerado uma potência.

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  2. E incrivel a mobilidade desse veiculo falo isso por estar nesse momento operando no haiti pela segunda vez e é notavel a diferença desse veiculo que Tem principal objetivo a proteçao da guarniçao diferente da atualmente usada aqui no haiti (marrua cargo) e deprimente voçe sair a rua em um local extremamente ostil sem segurança nenhuma contando com a sorte e com nossos coletes e capaçetes Mais fazer o que estamos a serviço da paz !

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  3. Tive a oportunidade de dirigir o Guará…me impressionei…excelente veículo!!! Parabéns para AviBras!!!!!

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  4. Desse jeito não da! Os fabricantes pesquizam, inovam, reinventam, atendem as exigências, e na hora de comprar, onde esta o dinheiro, o gato comeu…

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  5. Com certeza, mas o Guará seria mais atrativo se a metralhadora .50 fosse substituida por uma VULCAN, e o motor de apenas 177CV tivesse pelo menos 300HP de potencia, também poderia ser equipado com sistemas sistemas eletronicos de tiro para ser operado de dentro do veiculo, e um sistema anfibio onde podesse transpor rios de qualquer profundidade além de blindagem reativa.

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    • Vinicius Campanerutti

      E o Humvee americanos por acaso tem essas características?Não.Além do que foi feito segundo nossas necessidades,que segundo o exercito foram alcançadas.So faltou mesmo verbas suficientes pro EB cumprir sua palavra.
      Carros 4×4 com proteção reagente,vulcan como arma,sistema anfíbio e maior potência fariam deste uma fortuna,bem acima de 1 milhão de dolares,fora de nossa realidade.

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  6. Adriano Barros

    Excelente carro para patrulhar zonas de conflito. Só o design impressiona e impõe respeito! Os americanos tem o Humvee e nós o Guará….

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  7. renan faria de rezende teixeira

    eu acho que o exercito brasileiro podia comprar pelo menos uns 15 desses para cada quartel em todo o brasil

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    • marcus andré viegas de moura

      só 15 para cada quartel não vai suprir a necessidade do exército. No mínimo uns 70 pra cada quatel

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  8. carlos alberto c sousa

    tambem acho que a compra 15 para cada quatel não e má ideia

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  9. não se preucupem os politicos vão comprar alguns guará mas e pra eles propios e o resto do dinheiro vai pra conta na suiça

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  10. Hamilton Mendes

    Prezados,

    Não sejamos tão ingênuos. Político é pau mandado. Quem define a agenda do País é o Poder Econômico. E aí é que o jogo complica => nosso poder econômico está na mão do setor financeiro que não dá a mínima p/a Defesa Nacional. Isso pode ser revertido? Acredito que sim mas certamente levará tempo e exigirá que outros setores da economia (que realmente têm a perder caso o País não se estruture p/ter poder de dissuasão) ganhem mais peso…

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